domingo, 23 de setembro de 2012

Shortlist: Mapou Yanga-Mbiwa

Olhando de soslaio para este nome exótico, somos à partida forçados a pensar que se trata de mais um atlético ponta de lança africano a evoluir no futebol francês. Mas não poderíamos estar mais enganados: Yanga Mbiwa é defesa central. E dos bons.

Ainda jovem (23 anos), Yanga Mbiwa é o capitão e o esteio da linha mais recuada do actual campeão francês, o Montpellier. Tendo em conta a sua qualidade, constitui uma surpresa a sua permanência no outsider da época passada. Dotado de uma qualidade técnica invejável até para um centrocampista, é comum vê-lo a iniciar uma jogada de ataque a partir...de trás, qual David Luiz dos relvados gauleses. A estas qualidades alia uma velocidade impressionante, um poder de elevação assinalável e uma leitura de jogo e de ocupação dos espaços ao nível dos melhores na sua posição. Apenas terá de refrear o seu ímpeto ofensivo para se tornar num defesa central 100% fiável (por vezes perde a bola em zonas perigosas nas suas saídas para o ataque), mas nada que o tempo e a experiência não possam resolver.

Fez parte dos pré-seleccionados da selecção francesa para o Euro 2012 mas acabou por não ser convocado. Também foi falado para reforçar o Arsenal no último defeso, mas acabou por continuar em França. Pelo andar da carruagem, palpita-me que em 2014 a realidade será bem diferente.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Antigamente é que era

É cada vez mais comum ouvir dizer-se que "antigamente é que existia futebol a sério". Bem...tal afirmação não é inteiramente verdade, uma vez que, como é do conhecimento geral, estamos hoje em dia perante equipas que praticam um futebol de elevado quilate, como é o caso do Barcelona, do Real Madrid, da selecção espanhola (que no fundo é uma mescla das duas equipas atrás citadas), do Bayern Munique, do Manchester United, só para citar alguns colossos. Porém, compreendo perfeitamente o que querem dizer quando proferem a expressão atrás mencionada: significa que pelo menos há cerca de duas décadas atrás o futebol era mais puro, mais justo, mais...futebol!

Com efeito, em 1996 a Lei Bosman veio transfigurar completamente o mundo do futebol, ao abolir as fronteiras das ligas europeias aos jogadores comunitários. Se antes de ter sido feito jurisprudência com esta Lei, os clubes eram obrigados a cumprir escrupulosamente um rígido limite de jogadores estrangeiros por plantel, a partir de 1996 passou a ser possível uma equipa alinhar com 11 jogadores estrangeiros, se assim lhe aprouvesse. Obviamente que estas novas condições beneficiaram em grande parte os clubes com maior poderio financeiro, que passaram finalmente a poder contratar enormes contingentes de estrelas oriundas de além fronteiras para reforçar e abrilhantar os já de si ricos plantéis. Falo, em particular, das ligas espanhola, inglesa e italiana, que no final do século XX cresceram exponencialmente em virtude da nova "regra".

Por outro lado, os clubes mais pequenos, ou aqueles de ligas mais periféricas - como é o caso do campeonato português - foram manifestamente prejudicados. Em primeiro lugar, porque se antes de 1996 os melhores jogadores portugueses estavam quase todos concentrados em território nacional, após essa data tal facto deixou de ser possível, face ao vislumbre de salários e desafios aparentemente mais atractivos noutras paragens. Em contrapartida, começámos a assistir à chegada em catadupa de jogadores estrangeiros ao nosso campeonato, a esmagadora maioria de qualidade bastante duvidosa, que desvirtuaram completamente a mística dos clubes nacionais. Infelizmente, este fenómeno não se cingiu a Portugal, tendo-se antes alargado a países que no passado contaram com equipas bastante competitivas, como foi o caso da Roménia (e o grande Steaua de Bucareste dos anos 80), da ex-Jugoslávia (do mítico Estrela Vermelha) ou até da França e da Holanda. A questão é que com a Lei Bosman, muito dificilmente o Ajax poderia voltar a contar com um elenco onde figuravam jogadores como Van der Sar, Davids, Seedorf, os irmãos de Boer, Kluivert, Overmars, entre outros, que levantaram o ceptro europeu em 1995. E desde quando poderá o Estrela Vermelha de Belgrado - campeão europeu em 1991 - contar com atletas da igualha de Mihajlovic, Belodedici (que também já havia sido campeão europeu pelo Steaua de Bucareste), Pancev, Prosinecki, Savicevic ou Jugovic?

Estrela Vermelha de Belgrado - 1991

Todavia, em meados do início do séc. XXI começou a assistir-se a um refreio neste frenesim do "jogador estrangeiro", tendo os campeonatos periféricos começado a crescer de forma sustentada, como é o feliz caso do campeonato português. Afinal de contas, o FC Porto venceu a Taça UEFA em 2003, a Liga dos Campeões em 2004 e a Liga Europa em 2011. Por sua vez, o Sporting e o Sporting de Braga almejaram ser finalistas na segunda competição mais importante da Europa, em 2005 e 2011, respectivamente, e o Benfica tem tido sólidas prestações europeias, apesar de não ter alcançado nenhuma final.

Porém, não há bela sem senão. É que ultimamente têm surgido os "novos ricos" do futebol mundial. A moda pegou com Abramovich e o seu Chelsea, tendo-se alastrado nos últimos tempos ao PSG, ao Manchester City, ao Málaga, ao Shakhtar Donetsk, e mais recentemente ao Zenit. Tratam-se normalmente de equipas sem grande história (talvez com excepção do PSG) que subitamente atingem um sucesso meteórico fruto das excentricidade de um multimilionário aborrecido que não tem onde gastar o dinheiro e decide jogar Football Manager na vida real. Ora, a meu ver, este estado das coisas é perigosíssimo para o futebol, dada a sua deslealdade e desigualdade em termos financeiros, podendo criar sérios desequilíbrios em sede de competições europeias, já sem mencionar as óbvias repercussões a nível interno.

Ibrahimovic no dia da apresentação do novo rico PSG

Por isso eu subscrevo e assino por baixo: antigamente o futebol é que era!

sábado, 15 de setembro de 2012

À espera do próximo Helicopter Day


Após a pausa para jogos das selecções na fase de apuramento para o Mundial de 2014, eis que regressam ao activo os campeonatos por essa Europa fora, exceptuando, claro está, Portugal onde se teima em fazer calendários que ninguém percebe e que contribuem para arrefecer a paixão pela modalidade.

Feito este reparo, recuperemos o expoente máximo da loucura do futebol na época transacta. Sem prejuízo da falibilidade própria de qualquer opinião, não estarei a cometer qualquer sacrilégio ao apontar o Manchester City – Queens Park Rangers (QPR) da última jornada da Premier League como o momento alto do ano futebolístico 2011/2012. Os condimentos estavam todos lá: duas equipas com objectivos em jogo na última jornada – uma à procura da conquista do título de campeão que lhe escapava desde a época 1967/68, a outra com a permanência na Premier ainda por confirmar -; uma equipa multimilionária a ter que lutar  não apenas contra o adversário mas ainda contra o peso da enorme responsabilidade do momento; um estádio lindo, a abarrotar de adeptos desejosos por festejar tão ansiada conquista.

As coisas até começaram bem para o Manchester City quando o argentino Zabaleta deu vantagem ao City aos 39 mins. da 1ª parte. Sabendo da importância e influência que um golo em cima do intervalo tem no desfecho de um jogo, parecia que o City estava com uma mão no título... Nada mais errado! Logo no início da 2ª parte, Cissé fez o empate aos 47 mins. depois de falha imperdoável de Lescott. Dali a pouco, Barton, um verdadeiro selvagem, decide agredir Tevez e é expulso aos 54 mins. Não satisfeito, ainda pontapeia Aguero antes de abandonar o campo. Dada a maior qualidade dos jogadores do City, e agora em vantagem numérica, pareciam reunidas as condições para que o City voltasse a pegar no jogo e construir uma vitória com relativa tranquilidade. Mas o futebol é avesso a lógicas... E os Deuses decidiram que deveriam ser os underdogs a assumir a liderança (1-2) aos 65 mins. O susto de perder o campeonato em casa instalou-se no espírito dos Citizens... Esse susto foi sendo paulatinamente agudizado à medida que os minutos foram passando sem que o marcador mexesse, dando lugar ao medo, à histeria, à pura demência! Porém, os Deuses do futebol também gostam de finais felizes e, num ápice, aos 91 mins. e 93 mins., Dzeko e Aguero respectivamente conseguem virar o resultado, dando a vitória 3-2 ao City que lhe permitiu conquistar o título 44 anos depois... ao eterno rival Manchester United! Memorável!



A já longa história do futebol brindou os adeptos do desporto-rei com centenas de dias inesquecíveis como este. Contudo, nenhum deles terá proporcionado um episódio tão caricato quanto o que de seguida se relata. Época 2004/2005,  os dois rivais de Glasgow – Celtic e Rangers – entram para a última jornada com hipóteses de serem campeões, embora o Celtic partisse em vantagem na corrida ao título porquanto tinha 2 pontos de avanço sobre os Rangers. Ambos jogam fora: o Celtic contra o Motherwell, os Rangers contra o Hibernian. Está um helicóptero estacionado entre as duas cidades pronto a aterrar num dos estádios para entregar o título ao futuro campeão escocês. Tudo começou bem para o Celtic quando aos 29 mins. do seu jogo se coloca em vantagem 1-0 com golo de Chris Sutton. Com este golo, com este resultado, de nada valia a vantagem do Rangers que vencia 1-0 fora perante o Hibernian. Estes resultados mantiveram-se até muito próximo do fim pelo que as autoridades da Scottish Premier League deram ordem para o helicóptero partir em direcção a Motherwell para entregar o troféu ao Celtic. Mas no futebol os jogos só acabam quando o árbitro apita e dois golos de Scott McDonald aos 88 e 90 mins. do jogo colocaram o Motherwell a vencer o Celtic 2-1 e ofereceu o título de campeão ao Rangers. Ficaria célebre a reacção do comentador escocês ao 2º golo do Motherwell: “the helicopter is changing direction”! E assim foi. Épico!



Nós, os amantes do futebol, ficamos ansiosamente à espera do próximo Helicopter Day!

sábado, 21 de julho de 2012

Shortlist: André Martins

Para além do circo dos dirigentes e da permanente polémica em relação às arbitragens, a actualidade do futebol português é marcada por uma ausência preocupante de qualidade nas camadas jovens. Num país onde a matéria prima é limitada em termos quantitativos, urge encontrar jovens valores que dêem continuidade ao assinalável trabalho - e aos resultados - que tem vindo a ser protagonizado pela Selecção Nacional.

E eis que, no meio do deserto de jovens talentos, surge o sportinguista André Martins. Com 22 anos, deveria já ter explodido e ser uma referência no clube onde actua, bem como já ter uma ou outra internacionalização pela Selecção "A". Porém, a falta de apostas nos jovens portugueses por parte dos três grandes poderá ser em parte uma explicação plausível para justificar este panorama.


Passando ao que realmente interessa: André Martins. A sua pouca robustez física (1,69m e 61kgs) é inversamente proporcional à sua capacidade técnica e visão de jogo. De cabeça sempre levantada em busca da melhor linha de passe e das constantes movimentações dos seus colegas de equipa, André Martins revela uma maturidade bastante desenvolvida para a sua idade. Precisa urgentemente de ser uma presença constante no onze leonino de forma a ganhar confiança e ritmo continuado de jogo, para que se sinta importante e útil na equipa. Aliás, basta ver um jogo dos Sub-21 nacionais e observar a classe com que André Martins desempenha o papel de maestro, sendo o verdadeiro motor de jogo da equipa, o dínamo que faz a frente de ataque funcionar.

A confirmar-se o seu talento e a constituir uma aposta contínua, poderá estar aqui um caso sério do futebol nacional, a ser tomado em conta para se tornar numa opção mais que válida para o Mundial 2014, que se realizará no Brasil.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Uma Segunda Vida

Esta última semana ficou marcada pelas transferências de dois jogadores com reconhecido cartel no futebol europeu: Clarence Seedorf e Diego Forlán, que defenderão as cores do Botafogo e do Internacional de Porto Alegre, respectivamente. Mas o que realmente significam estas transferências? Uma reforma dourada e livre de pressões de toda a ordem e feitio? Ou um real desafio ajustado às actuais capacidades dos atletas supra mencionados?


Durante muitos anos, fomos habituados a assistir às "fugas" de alguns jogadores veteranos para o El Dorado de outros campeonatos menos competitivos, nomeadamente de países do Médio Oriente onde os petrodólares permitem o luxo de pagar salários principescos a jogadores em fim de carreira, só e apenas para abrilhantar ou conferir algum mediatismo àqueles torneios.

Todavia, ultimamente temos assistido à fuga de alguns jogadores de nomeada para o campeonato brasileiro, reconhecidamente um dos mais competitivos do mundo, não obstante as patentes diferenças - maioritariamente a nível táctico e de velocidade de jogo - em relação ao futebol praticado no Velho Continente. Foi o caso de Deco, Ronaldinho Gaúcho, Marcos Assunção, Sebastian "El Loco" Abreu, Elano, e mais recentemente Seedorf e Forlán. O que se poderá esperar quanto ao lucro desportivo que estes dois craques poderão trazer ao Brasileirão?


A meu ver, esta oportunidade surge como uma hipótese para ambos de "reencarnar" e assumir uma segunda vida, futebolisticamente falando: se para Seedorf, do alto dos seus 36 anos, o desafio do "Fogão" servirá para os adeptos degustarem durante mais uns anos a maravilhosa classe do holandês (afinal de contas, quem sabe não esquece), no caso de Forlán, a passagem pelo Internacional terá como objectivo fazer esquecer duas épocas estéreis do avançado uruguaio - em especial a última, nos nerazzurri de Milão - após um brilhante Mundial 2010. 

No fundo, ambos terão como missão tornar ainda mais competitivo o cada vez mais interessante Brasileirão. Uma segunda vida, que deverá ser aproveitada com unhas e dentes.  

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Espanha – o “catenaccio” da posse de bola?


Acabou-se o Euro 2012. À partida para esta competição, a maioria dos adeptos do futebol e as bolsas de apostas apontavam Espanha, Alemanha e Holanda como os grandes favoritos a levantar o troféu, com Espanha à cabeça por ser o campeão europeu e mundial em título. Não causa, portanto, estranheza a vitória de nuestros hermanos que, de facto, estão a tirar o máximo partido da sua geração de ouro contando com jogadores fortíssimos a manter e a gerir a posse de bola bem como a aproveitar cada nesga de terreno livre para aplicar passes entrelinhas, verdadeiras sentenças de morte para as defensivas contrárias.



Como adversário na final, a Espanha teve a (quase) sempre competitiva Itália,  um país que foi berço de umas das filosofias de jogo mais conhecidas do mundo do futebol – admirada por uns, abominada por outros. Falamos do catenaccio! Uma filosofia de jogo assente num bloco baixo, elevada concentração de jogadores na zona defensiva quando o adversário tem a posse de bola, e ainda uma forte aposta nas transições ofensivas com vista a aproveitar cada oportunidade para marcar o golo que possibilite manter a toada de jogo baseada na organização defensiva. Obviamente, como quase tudo que rodeia o futebol, esta filosofia de jogo dividiu opiniões. Os admiradores da componente táctica viam no catenaccio o exemplo máximo da ciência aplicada ao futebol. Já os apologistas da vertente técnica sempre encontraram no catenaccio uma barreira inaceitável ao bom futebol, um verdadeiro sacrilégio na medida em que a preocupação maior estava em impedir o futebol do adversário ao invés de estar centrada na procura pelo golo que, no fundo, é a essência do beautiful game.

Mas será que o catenaccio tem que obrigatoriamente assentar numa filosofia de jogo defensiva? A resposta é não. Na verdade, pode-se impedir (ainda com maior eficácia) que o adversário crie perigo adoptando uma filosofia de jogo tendencialmente atacante. Como? Tendo bola, escondendo-a do adversário. Como é óbvio, enquanto o adversário não tem posse de bola, as probabilidades de sofrer golos são ínfimas. Os expoentes máximos deste novo “catenaccio da posse de bola” são, sem sombra de dúvida, o FC Barcelona e a selecção espanhola. E porquê estes? Porque têm jogadores para isso, nomeadamente dois jogadores de meio-campo exímios a conservar a posse de bola e a pautar o jogo: são eles Xavi e Iniesta.

  
Por isso, o “catenaccio da posse de bola” não é para quem quer... é para quem pode!

domingo, 1 de julho de 2012

Olho para o negócio: boas soluções em tempos de crise

Com o aproximar da pré-época, é natural que comece a tão aguardada dança das transferências, compreensivelmente apelidada de silly season, fruto dos infindáveis rumores (sustentados ou não) que a caracterizam. Porém, e especialmente em época pós-Euro, existem muitos jogadores super inflacionados precisamente em virtude do referido certame: é o caso, por exemplo, de João Moutinho, Bruno Alves ou Miguel Veloso, do lado português; Bendtner, Modric, Strinic, Dzagoev, Gebre Selassie, Jiracek, Pilar, Yarmolenko ou Konoplyanka, só para citar outros casos de jogadores "da moda" cujo valor aumentou exponencialmente com a sua participação no Euro, e que, portanto, os clubes neles interessados terão de abrir os cordões à bolsa caso queiram contar com os seus préstimos.

Todavia, existem, a meu ver, três categorias de jogadores que seriam óptimas oportunidades de negócio nesta época estival: a) Jogadores que não participaram no Euro 2012; b) Jogadores que, tendo feito parte dos plantéis que participaram no Euro, não jogaram ou tiveram uma participação reduzida; c) Obviamente, os jogadores livres, que não representam qualquer custo (tirando os salários e possíveis comissões) para os clubes interessados.

a) Começando pelos jogadores que não participaram no Euro, temos um vasto leque de atletas que poderiam ser óptimos investimentos, tendo em conta o binómio qualidade/preço. Citando alguns exemplos:

- Dries Mertens. Este extremo belga do PSV é um excelente jogador para qualquer equipa de média/grande dimensão. Extremamente veloz e incisivo, alia a imprevisibilidade técnica a um poder de finalização muito interessante para um jogador que não é um avançado puro.

- Georginio Wijnaldum. Também do PSV, o jovem "10" holandês seria uma excelente aquisição para qualquer clube da alta roda europeia. Vítima do excesso de qualidade no seu raio de acção, não foi convocado para o Euro. Todavia, é questão de tempo até se tornar num indiscutível da selecção das túlipas.

- John Guidetti. Este jovem sueco, emprestado pelo Manchester City ao Feyenoord na época finda, falhou o Euro por lesão. Porém, 20 golos em 23 aparições não é coisa que passe despercebida. Sem grande espaço no clube inglês, decerto vingaria no futebol português.

John Guidetti

- Manuel Fernandes. A grave crise financeira do seu clube, o Besiktas, pode ser meio caminho andado para adquirir este médio centro completo a um preço bastante acessível. Causou alguma estranheza não fazer parte dos 23 eleitos da Selecção Nacional, mas o clube que o levar nesta nova época agradece.

- Milos Krasic. Extremo sérvio que joga (pouco) na Juventus. Um caso estranho de sub-rendimento e pouca sorte no futebol italiano, após várias épocas brilhantes ao serviço do CSKA de Moscovo. Já exigiu sair do clube transalpino, pelo que não será de ignorar sondar os seus serviços. Traria qualidade ao futebol português.

Também poderia referir outros atletas, como Burak Yilmaz (34 golos ao serviço do Trabzonspor) ou Bas Dost (31 golos pelo Heerenveen), mas já houve quem se adiantasse a garantir a sua colaboração. Lazio e Wolfsburg, respectivamente. Simão Sabrosa também poderia ser um reforço interessante.

b) Não obstante terem marcado presença no Euro, não fizeram/não tiveram oportunidade de mostrar o seu valor e, consequentemente, "inchar" o valor do seu passe, constituindo por isso alvos interessantes:

- Ricardo Quaresma. Tal como acontece com Manuel Fernandes, a situação financeira do clube turco pode potenciar a sua saída a um preço acessível. Uma excelente opção para qualquer clube português (e não só).

- Hugo Viana. Seria sem dúvida um jogador que faria a diferença num campeonato periférico (Grécia, Turquia, Rússia...), bem como num grande do futebol português.

- Kevin Strootman. Não jogou um único minuto na selecção holandesa, mas este médio centro do PSV será decerto um caso sério nos próximos anos. É agarrá-lo enquanto é tempo, para quem quiser um Van Bommel mais evoluído tecnicamente (também joga um pouco mais adiantado).

Kevin Strootman

- Anders Lindegaard. Quem quer um óptimo guarda redes que não é titular nem no seu clube (Manchester United) nem na sua selecção (Dinamarca)? Com 28 anos, está prestes a atingir o pico de maturidade como futebolista. Dado o papel secundário que tem tido nos últimos anos, seria uma excelente aposta para assumir a titularidade de um clube que jogue na Liga dos Campeões.

- Steve Mandanda. Nunca tendo saído da Ligue 1, o guarda redes do Marselha e suplente dos Bleues está na hora de dar "o salto", sob pena de cair em processo de estagnação. A Premier League seria uma boa aposta.

c) No final de cada época existe invariavelmente uma miríade de jogadores que não renovaram o vínculo contratual com os clubes empregadores. Este ano temos alguns "casos" interessantes como José Bosingwa, Alessandro Del Piero, Salomon Kalou, Tomas Sivok, Lukasz Fabianski, Markus Rosenberg, entre outros. Quem pagar mais leva!

Salomon Kalou

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Gordo, vai à baliza!

"O gordo vai à baliza!". Esta é, quiçá, a frase mais ouvida pelos miúdos com excesso de peso quando se juntam com os amigos para jogar à bola. Fruto da sua parca mobilidade, o "gordo" é sempre remetido para a posição onde supostamente estorvará menos: a baliza, precisamente.

Muito provavelmente terá sido o que aconteceu a Jeroen Verhoeven, hoje em dia terceiro guarda redes do Ajax. Constantemente relegado para a baliza, o jovem Jeroen quis provar aos outros rapazes da sua idade que afinal até poderia ser uma mais valia naquela posição. Depois, já se sabe, cresceu (e de que maneira!...) e tornou-se jogador profissional de futebol.


Do alto dos seus 193cm e mais de 100 kgs, Verhoeven iniciou a sua carreira no RKC Waalwijk, tendo-se transferido em 2002 para o Volendam, onde passou sete épocas como titular indiscutível da formação laranja. As suas boas prestações valeram-lhe, em 2009, a transferência para o mítico clube de Amesterdão, sendo no entanto quase sempre terceira opção. Não obstante, para integrar o plantel do Ajax é decerto necessário ter alguma qualidade, o que só por si vem provar que para ser jogador de futebol não é imperativo ser um rei das passerelles ou um Adónis do século XXI.


É aliás interessante recordar uma história passada justamente no Amsterdam ArenA, quando o nosso amigo Jeroen ainda jogava pelo Volendam: sempre que Verhoeven ia bater um pontapé de baliza, o público afecto ao Ajax gritava em tom jocoso e a plenos pulmões "Ohhhhhhhhhhhh pizza!!!". O pobre Verhoeven, melindrado com o facto, chegou mesmo vir a público defender que o seu excesso de peso é genético, e que faz tudo para emagrecer, já que treina sete dias por semana e não passa a vida a comer no McDonald's. Palavas do próprio.

Eis Jeroen Verhoeven, um guardião que enche a baliza. Literalmente.

domingo, 3 de junho de 2012

Shortlist: Yaroslav Rakitskiy

Em época de Europeu que se joga na Polónia e na Ucrânia, é imperativo destacar um jogador da casa (ucraniano) que quiçá venha a ser uma das revelações do torneio: Yaroslav Rakitskiy.

Defesa central do novo monopolizador do futebol da Ucrânia, o Shakhtar Donetsk, trata-se ainda de um jovem atleta de 22 anos com um brilhante futuro pela frente. Apesar de não ser muito alto para a posição em que joga (1,80m), é no entanto dono de um forte jogo de cabeça, ao qual junta uma disponibilidade física e um poder de marcação impressionante, sendo, juntamente com Dmytro Chygrynskiy, o esteio da defesa da selecção do seu país e do seu clube.


Podendo também jogar na lateral esquerda da defesa, Rakitskiy é ainda portador de um poderosíssimo remate de pé esquerdo, sendo um exímio cobrador de livres directos longe da área.

Com apenas 22 anos e uma margem de progressão tão prometedora, seria um jogador a ter em conta para uma equipa com outras ambições. Todavia, o preço do seu passe não deverá estar ao alcance de todos, pelo que aposto num futuro na Premier League.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Shortlist: Lacina Traoré

Traoré ainda ao serviço do seu antigo clube, o Cluj
 
Do ainda longínquo futebol russo, mais detalhadamente do Kuban Krasnodar, surge-nos este colosso costa marfinense, de seu nome Lacina Traoré. A sua impressionante estampa física (203cm para 87 kg) poderia, numa primeira análise, fazer pensar que se trata de um ponta de lança muito limitado tecnicamente. Trata-se, porém, de um atleta tecnicamente muito dotado, com uma excelente mobilidade, sendo que o seu físico longilíneo permite-lhe uma passada larga e uma capacidade de drible interessante.

Ainda muito jovem (21 anos), começou a sua carreira no seu país natal, no Stade d'Abidjan, tendo posteriormente sido transferido para os romenos do Cluj na temporada 2007/2008, onde passou quatro épocas, tendo marcado 14 golos em 44 jogos, marca interessante para um jogador da sua idade.

O sucesso desportivo e o enorme potencial demonstrado na Roménia valeu-lhe uma transferência para o cada vez mais interessante e competitivo campeonato russo, onde esta época, ao serviço do Kuban, apontou 18 golos, conseguindo conquistar o terceiro lugar do pódio dos melhores marcadores.

De uma certa forma, é um jogador que me faz lembrar Adebayor ou até Ibrahimovic no início da sua carreira. Excelente capacidade física, joga muito bem de costas para a baliza, guardando-a dos adversários, o que permite abrir espaços para servir os seus colegas de ataque, ou, como faz amiúde, rodar e rematar para o golo. No entanto, e apesar da sua altura, ainda não é tão forte no jogo de cabeça como seria de esperar, algo que poderá, no entanto, aperfeiçoar ao longo do tempo, dada a sua juventude.

Uma boa oportunidade de negócio, uma vez que milita num clube russo de segundo plano que não tem grandes aspirações a nível interno. Gostaria de vê-lo num campeonato mais competitivo, como por exemplo na Premier League, onde poderia desenvolver todo o seu potencial e tornar-se num jogador de excelência. A seguir com atenção.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Mais que um estádio... uma bancada: Spion Kop!


É no estádio que tudo acontece. É lá que os adeptos indefectíveis se reúnem, faça chuva ou sol, para apoiar o seu clube, e onde as claques preparam coreografias de fazer corar qualquer encenador. É no estádio que os jogadores demonstram a sua habilidade, ou falta dela, levando a que uns entrem no grupo restrito daqueles que serão eternamente recordados e que outros fiquem vetados ao esquecimento.

Existem estádios que impressionam (ou impressionavam) pela sua grandeza: o Camp Nou (Barcelona), o Maracanã (Rio de Janeiro), o Estádio Azteca (Cidade do México) ou o antigo Estádio da Luz, qualquer um deles, nos seus tempos áureos, com capacidade para mais de 100.000 espectadores!!! Também há os que encantam pela sua beleza - o Allianz Arena (Munique), o Emirates e o novo Estádio de Wembley (ambos em Londres) – ou pela sua singularidade – o Estádio Axa (Braga). E ainda há os estádios míticos, nomeadamente em Inglaterra, que sobrevivem a longas décadas de jogos semana-sim semana-não, testemunhos “vivos” da história de clubes como Manchester United, Tottenham, Newcastle ou Everton, só para citar alguns.

E depois... Bem depois existe uma bancada que transcende a relevância do seu próprio estádio. O estádio: Anfield, casa do Liverpool F.C. A bancada: Spion Kop, o topo sul do estádio.



Baptizada assim pelo jornalista local Ernest Edwards, o nome Spion Kop ficou a dever-se a um monte situado na África do Sul, um local estratégico de elevada importância militar na Segunda Guerra do Boers (1899–1902) e onde centenas de soldados britânicos perderam a vida, muitos deles oriundos da zona de Liverpool. Ainda que vários tenham sido os estádios britânicos (de futebol e não só) a adoptar “Spion Kop” ou “The Kop” para nome de alguma das suas bancadas, a verdade é que foi a de Anfield que se notabilizou e conquistou um espaço na história do futebol mundial. Foi aquela bancada, pela força que dela emanava, que empurrou o Liverpool F.C., um clube de uma cidade de apenas 400.000 habitantes, para conquistas invejáveis e quase inimagináveis, inspirando jogadores como Bruce Grobbelaar, Ray Clemence, Graeme Souness, Kevin Keegan, Ian Callaghan, Kenny Dalglish ou Ian Rush naquela notável era que se estendeu desde meados da década de 70 até ao fim da década de 80, e que se saldou, entre outros, em 10 títulos de campeão inglês (em 15 possíveis) e em 4 Taças dos Campeões Europeus.



É na Spion Kop que o lema “You’ll never walk alone” tão invocado pelos adeptos do Liverpool F.C. ganha expressão… De facto, ainda que despida de adeptos, ali entoam permanentemente as “vozes” de todos aqueles que partiram e que a bancada pretende homenagear, o que faz da Spion Kop maior do que qualquer estádio!

terça-feira, 1 de maio de 2012

No man is an island ou a estranha forma de vida de um guarda redes

No man is an island, ou, traduzindo para português, "Nenhum homem é uma ilha", é uma conhecida frase do poeta inglês John Donne, cujo significado procura ilustrar que o homem não é feito para viver sozinho, isolado da restante comunidade. Porém, o futebol nem sempre segue os predicados da vida dita "normal", e em particular, uma posição em especial contraria toda essa linha de pensamento filosófico: o guarda redes.

Ser guarda redes é a apologia da solidão, um acto de rebeldia, é ser diferente dos outros. No seu reino - a grande área - ele é rei e senhor, sendo o último bastião do seu exército, onde só se lembram dele quando tudo o resto já caiu. Durante o resto do jogo, o guarda redes é apenas um mero espectador, um espectro que parece deslocado do jogo. Por isso, pergunto-me várias vezes o que se passará na cabeça de um guarda redes durante uma partida: no que pensará Victor Valdés quando passa cerca de 80 minutos inactivo enquanto o seu Barça aborrece e cilindra (por esta ordem) os adversários com o seu tiki taka?

No entanto, existe apenas uma situação na qual o guarda redes pode ter mais notoriedade do que um virtuoso do meio campo ou de um bomber de grande área: o penalty. No fundo, trata-se de uma situação "carne para canhão" onde o guarda redes nada tem a perder. Muito pelo contrário, só tem a ganhar. Se for golo, o avançado não fez mais que a sua obrigação: afinal de contas, estamos a falar de um remate sem oposição a 11 metros da baliza. Porém, se o guarda redes defender, passa automaticamente a ser o herói e a ser visto com outros olhos. Vida ingrata, esta. Ingrata para uns, mas grata para outros, que devido ao facto de terem brilhado na defesa de grandes penalidades, viram reconhecido internacionalmente o seu brilhantismo, quando se não se tivessem evidenciado nessa particularidade, nunca seriam vistos como mais do que um mero guarda redes mediano: falo, por exemplo, do nosso Ricardo ou do argentino Sergio Goycochea, figura do Mundial '90.

Relativamente ao português, a história é bem conhecida de todos: é o guarda redes que defendeu sem luvas o penalty de Vassell, no Euro 2004 (e logo se seguida marcou ele próprio o penalty da vitória da Selecção das Quinas frente aos ingleses), e que, no Mundial 2006, voltou a fazer chorar a nação inglesa ao defender três penalties na mesma série de desempate, após um empate a zero no tempo regulamentar, em plenos quartos de final de um Campeonato do Mundo. Caso estes episódios nunca tivessem acontecido, provavelmente Ricardo nunca teria o empolamento e a notoriedade que teve, nunca ultrapassando a imagem de um guarda redes com relativo potencial, capaz do melhor e do pior no mesmo jogo.

 Ricardo, no momento em que defende o penalty de Darius Vassell, no Euro 2004

Por sua vez, a história de Sergio Goycochea acaba por ser mais típica de novela sul americana. Convocado para o Mundial '90, em Itália, como suplente do mítico Nery Pumpido, o guarda redes foi para o torneio convencido que nunca iria sair do banco de suplentes. Porém, no segundo jogo da fase de grupos, frente à União Soviética, Nery Pumpido lesiona-se gravemente aos 11 minutos, dando lugar ao seu suplente, precisamente Sergio Goycochea, que viria a ser determinante nos quartos de final frente à Jugoslávia de Ivkovic, ao defender dois penalties no desempate por grandes penalidades (3-2 p., após 0-0 nos 90 minutos), bem como nas meias finais frente à Itália (4-3 p. após empate a um no tempo regulamentar), defendendo os remates da marca de 11 metros de Roberto Donadoni e de Aldo Serena. Na grande final, frente à Alemanha, foi no entanto incapaz de defender o penalty de Andreas Brehme, aos 83 minutos de jogo, que viria a atribuir o ceptro de campeões do mundo aos alemães.

 Sergio Goycochea

Sem estes episódios, Ricardo e Goyco nunca teriam saído da sombra do quase anonimato. Seriam apenas mais um entre milhares de guarda redes internacionais medianos. Ser guarda redes, uma estranha forma de vida.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O Efeito Salenko

Oleg Anatolyevich Salenko. Para muitos, este ex-futebolista russo será meramente um ilustre desconhecido, mas para os conhecedores do desporto rei, e obviamente para a estatística, será sempre associado ao facto de ter sido o melhor marcador do Mundial '94, que se disputou nos E.U.A., com seis tiros certeiros, permitindo-lhe fazer parte do restrito lote de goleadores como Mario Kempes, Paolo Rossi, Ronaldo ou Miroslav Klose.

Porém, tal feito foi conseguido em moldes algo peculiares. A Rússia não logrou sequer passar da fase de grupos (Brasil, Camarões e Suécia completavam o grupo), pelo que bastaram três jogos para Salenko entrar nos livros de História do Desporto. Para ser mais preciso, bastaram dois jogos. O russo marcou o seu primeiro golo na derrota frente à Suécia (1-3), tendo completado o pecúlio contra os Camarões, na rotunda vitória do colectivo de leste por uns esclarecedores 6-1, onde Salenko acertou por cinco (!) vezes nas redes da baliza contrária.
Salenko no momento do 5º golo frente aos Camarões

Mas quem era Salenko e porque pouco ou nada se ouviu falar dele após o referido Campeonato do Mundo? A culpa é do chamado "efeito Salenko", ou se preferirem, a "síndrome da estrela cadente", que afecta vários jogadores por esse mundo fora. Temos como exemplo o checo Milan Baros (que muito prometia, tendo feito um fantástico Euro 2004, onde se sagrou o melhor marcador com cinco golo), que nunca passou de um jogador mediano, bem como o herói do Itália '90, Toto Schillaci. São jogadores de torneios de curta duração, que por mero acaso estavam a viver um saudável momento de forma, aproveitando assim - merecidamente - para ascender ao estrelato e às luzes da ribalta.

Aquando do Campeonato do Mundo americano, Salenko jogava já em Espanha, no modesto Logroñés, onde conseguiu ter algum sucesso (23 golos em 47 jogos), após ter brilhado ao serviço do Dinamo Kiev. O excelente Mundial valeu-lhe uma transferência para um dos grandes do país vizinho, o Valência, onde porém só conseguiu aguentar uma época, sem grande brilhantismo, tendo-se transferido na temporada seguinte para os protestantes de Glasgow, o Rangers, onde também só assentou bagagens por uma época. Após mais uma época muito aquém das expectativas para um Bota de Ouro, continuou a sua carreira no pouco exuberante Istanbulspor, da Turquia, tendo depois voltado a Espanha, para o Córdoba. Viria a acabar a outrora prometedora carreira no quase anónimo Pogon Szczecin, da Polónia.

O Efeito Salenko é, em resumo, algo que se pode descrever como uma carreira mediana, polvilhada por um curto espaço de tempo - normalmente coincidente com um Mundial ou um Europeu - no qual o jogador atinge um brilho intenso, capaz de prometer mundos e fundos e deixando o mercado "de cabeça perdida", para depois voltar ao patamar mediano que no fundo o caracteriza. É futebol, faz parte do jogo.

sábado, 14 de abril de 2012


Derby com travo a Scotch

O que têm em comum Lisboa, Buenos Aires, Rio de Janeiro, São Paulo, Milão, Roma, Glasgow, Atenas, Londres, Liverpool ou Istambul? São capitais? Nem todas... Têm praias? Nem todas... Há algo mais forte que as une: são todas palco dos maiores e mais apaixonantes derbies à face da terra! Derby é a expressão há largos anos importada de terras de sua majestade para definir os embates entre dois clubes da mesma cidade que ao longo de largos anos foram construindo uma rivalidade que se estende muito para lá das quatros linhas. Tudo é motivo de despique. Tudo se discute. Quem tem mais títulos? Qual o estádio mais bonito? Quem tem mais adeptos? Quais os adeptos mais fiéis? As clivagens são permanentes e inevitáveis.

Mas não haverá um traço comum entre estes adeptos? Um ponto de indubitável concórdia? Claro que sim: a paixão... Paixão não só no sentido mais imediato de amor ao respectivo clube mas também como contraposição à racionalidade com que se vive o dia-a-dia mas que fica descurada quando a bola começa a rolar ou sempre que a rivalidade vem ao de cima. A paixão naquela primeira acepção justifica, por exemplo, o êxtase que sentimos com as vitórias e glórias do nosso clube, explica a saudade que nos invade sempre que ficamos demasiado tempo sem ver o nosso clube jogar, mas também se manifesta nas noites mal dormidas, perda de apetite, e demais sintomas habituais em momentos de derrota. Já a paixão no segundo sentido confunde-se com loucura e irracionalidade. Aquela que explica a visão deturpada dos lances polémicos (quase) sempre a favor do nosso clube (por muito que as imagens evidenciem o contrário), justifica os cabelos arrancados, os objectos partidos e incontáveis outras atitudes irreflectidas.

E que dizer dos derbies em si? Cada desafio é único, irrepetível, e representa uma nova página na história dos eternos rivais. São estes jogos que imortalizam jogadores, definem treinadores e prendem os amantes do futebol... mesmo aqueles que não são adeptos dos clubes em contenda! No entanto, não raras vezes, aquilo que se eterniza na memória não é o resultado em si mas antes uma finta desconcertante, um corte in extremis, uma defesa impossível… um momento!

E foi um destes momentos, protagonizado por um técnico escocês, num derby escaldante, que o imortalizou para sempre na história do clube e principalmente na lembrança daqueles que observaram aqueles instantes. O técnico: Graeme Souness. O derby: Galatasaray – Fenerbahce.





Tudo ocorreu a 24 de Abril de 1996, em jogo a contar para a 2ª mão da Final da Taça da Turquia. Após jogar a 1ª mão em casa, no estádio Ali Sami Yen, a equipa orientada por Graeme Souness partiu para a 2ª mão com uma vantagem de 1-0 sobre os rivais do Fenerbahce. Fazendo valer o factor casa, o Fenerbahce consegue vencer o Galatasaray igualmente por 1-0 obrigando a um prolongamento para definir o vencedor. Nesse prolongamento a equipa de Graeme Souness superioriza-se e logra o empate 1-1, arrebatando a Taça da Turquia em pleno estádio inimigo. A apoteose é grande entre jogadores, técnicos e dirigentes do Galatasaray. Entre os rituais de festejo está uma bandeira a circular de mão em mão pelos elementos da equipa vencedora… Até que chega às mãos de Souness. Nesse momento, e após ser provocado por um dirigente do Fenerbahce que o chamou de “aleijado” (em alusão a uma intervenção cirúrgica a que recentemente havia sido sujeito), Souness corre para o centro do relvado e espeta a bandeira do Galatasaray no círculo central, mesmo no coração do território inimigo, como se de um conquistador se tratasse.




Mais do que o resultado, mais do que o título, foi aquele momento que notabilizou a etapa de Souness enquanto técnico do Galatasaray. Tudo graças à rivalidade, à paixão... a um derby com travo a Scotch!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Bélgica: the next big thing

Jean-Marie Pfaff, Jan Ceulemans, Enzo Scifo, Eric Gerets, Frank Vercauteren. Qual o elo de ligação entre todos estes nomes? Fácil. A geração de ouro belga que brilhou na Europa e no Mundo nos anos 80, atingindo, por exemplo, o quarto lugar no México'86. Após esta talentosa fornada de jogadores, a Bélgica viveu um "apagão" até aos dias de hoje, com participações pontuais em grandes torneios, tendo no entanto oferecido ao mundo de futebol outras grandes estrelas, como o nosso bem conhecido Michel Preud'homme (que durante alguns anos foi um verdadeiro "abono de família" no Benfica), o goleador Luc Nilis, ou o estratega Marc Wilmots, que após o término da carreira futebolística, abraçou a política, tendo mesmo chegado a deputado.

É certo e sabido que o sucesso das selecções nacionais depende em grande parte das tão propaladas "gerações de ouro". Temos o exemplo da nossa Selecção Nacional, mas não só: a grande e igualmente surpreendente Dinamarca de 1992, a Roménia de 1994, a França de 1984 e do final do século XX, entre outras. E quem sabe, de 2012 em diante, a Bélgica. É a minha grande aposta. E porquê?

Não obstante o insucesso nos jogos de qualificação para o Euro 2012 - quiçá alguma inexperiência em virtude da juventude de muitos dos seus jogadores - a verdade é que a Bélgica é uma das selecções europeias que reúne o maior número de jovens jogadores de elevadíssima qualidade, sendo que a maior parte já alinha no onze inicial de grandes clubes europeus.

Assim, começando pela baliza, aparece desde logo o titularíssimo colchonero Thibault Courtois (que pertence aos quadros do Chelsea), de apenas 19 anos. Apesar de nos últimos jogos internacionais o titular ter sido o igualmente jovem de valor Simon Mignolet (Sunderland), o guarda redes do Atlético Madrid parece estar destinado a grandes voos. Literalmente.

Na defesa, evolui do lado direito um central adaptado, Toby Alderweireld, titular do Ajax, sendo que na lateral oposta tem jogado o gunner Thomas Vermaelen. A razão para este excelente defesa central ter sido "encostado" ao lado esquerdo prende-se justamente com o excesso de qualidade no centro da defesa, uma vez que a dupla Jan Verthongen (Ajax) e Vincent Kompany (Manchester City) são garantia de solidez e qualidade defensiva. Seria uma pena qualquer um destes jogadores sentar-se no banco de suplentes, daí a adaptação do jogador do Arsenal, que não tendo todavia a mesma intensidade de jogo que teria se jogasse a central, é no entanto uma opção muito mais válida que qualquer outra alternativa para essa vaga.

Axel Witsel

Por sua vez, no meio campo, abunda o talento em quantidade: no centro do terreno a Bélgica usufrui de jogadores como Axel Witsel (Benfica), Steven Defour (FC Porto), Radja Nainggolan (Cagliari), ou Marouane Fellaini (Everton). A número 10, talvez o melhor jogador belga dos últimos 20 anos: Eden Hazard, de apenas 21 anos, que espalha magia no campeonato francês, ao serviço do campeão em título, o Lille. Frequentemente comparado a Zidane, Eden Hazard é já ardentemente cobiçado pelos grandes emblemas europeus, algo que se explica muito facilmente tendo em conta o binómio qualidade/juventude. Uma pérola a seguir com toda a atenção!

Eden Hazard

Do lado esquerdo do ataque poderá surgir Kevin De Bruyne, jogador de uma virtuosidade técnica e de uma rapidez impressionantes, que evolui no Racing Genk, tendo já no entanto sido contratado pelo Chelsea para a época 2012/2013. Por seu turno, o lado direito do ataque é normalmente ocupado por falsos extremos, como Moussa Dembelé (Fulham) ou Kevin Mirallas (Olympiakos), jogadores não tão espectaculares e prometedores como os anteriormente mencionados, mas já com alguma experiência internacional e de fiável consistência competitiva.

Romelu Lukaku

Finalmente, no ataque, a selecção belga dispõe do goleador Jelle Vossen (Racing Genk) e da grande promessa do Chelsea, Romelu Lukaku, de 18 anos, um "monstro" de 1,93 e de 95 kg, factores que são todavia enganadores, uma vez que o jovem de ascendência congolesa é dono e senhor de uma técnica requintada e de uma velocidade fora do normal para alguém da sua estampa física. Talvez devido à gritante diferença entre o campeonato belga e a Premier League, Lukaku ainda não evidenciou ao mundo as credenciais que levaram o Chelsea a contratá-lo por €20M ao histórico Anderlecht, clube pelo qual se sagrou o melhor marcador da liga belga com apenas...16 anos. Será apenas uma questão de tempo até manifestar todo o seu enorme potencial.

Face ao exposto, caso as grandes promessas se venham a confirmar como grandes certezas, e com maior experiência e maturidade com o passar dos anos, não tenho dúvidas que a Bélgica se poderá tornar num caso sério no panorama europeu a curto/médio prazo. É esperar para ver.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A Mão de Deus. Não a de Maradona. A de Luis Suárez.


O Campeonato do Mundo é por excelência uma competição propícia a momentos míticos e inolvidáveis, dignas de constar em qualquer manual de futebol. Quem não se lembra do "barrilete cosmico" de Maradona contra os ingleses no México '86? Ou, no mesmo jogo, a famosíssima Mão de Deus? Porém, outra Mão de Deus teve lugar no último torneio em 2010, tendo como protagonista o uruguaio do Liverpool, Luis Suárez.

Quartos de final do Mundial da África do Sul, encontram-se frente a frente duas das equipas sensação do certame. De um lado, o Gana, personificação do futebol perfumado e tecnicista tão característico daquela zona de África, onde despontavam figuras como Asamoah Gyan, Kevin Prince Boateng ou Sulley Muntari. Do outro, a equipa da moda, o Uruguai, envergando a camisola albiceleste jogadores Luis Suárez, Diego Forlán ou Edinson Cavani.

Após os primeiros noventa minutos de um jogo intenso e bem disputado, o marcador assinala um empate a um golo: aos 45' Muntari adianta a equipa africana no marcador, dando ao Gana a esperança legítima de tornar-se na primeira equipa daquele continente a alcançar as meias finais de um Mundial. Porém, aos 55', o inevitável Forlán iguala a contenda, atirando o jogo para prolongamento. Nesta fase do jogo, não obstante estarmos a assistir a um embate repartido e muito equilibrado, o nulo persiste de forma indelével, até que, aos 120 minutos, precisamente no último momento do jogo, eis que o drama acontece: numa jogada de insistência do ataque ganês, após um livre lateral, Dominic Adiyiah cabeceia para o golo...que não é golo porque Luis Suárez faz o papel de Muslera e defende - literalmente - a bola em cima da linha de golo. Que melhor drama épico para uns quartos de final de um Mundial de Futebol? Suárez expulso e penalty no último minuto do prolongamento. O uruguaio sai do relvado lavado em lágrimas, plenamente convencido da iminente eliminação do seu país. Não obstante, quiçá iluminado por uma vã esperança, não vai directamente para os balneários, preferindo ficar a assistir ao desfecho do jogo, junto ao túnel...


Os ganeses rejubilam, personificados na sua grande figura, Asamoah Gyan, que se prepara para bater a grande penalidade e assim escrever uma linda página na História desportiva do Gana. Mas a vida - e o futebol - tem um sentido de humor muito próprio: na sequência da marcação do penalty, a bola esbarra na trave, volatilizando o sonho de todo um povo. Ao olhar para o rosto de Gyan e dos seus companheiros, poderíamos jurar que tinham sido eles próprios a embater contra o ferro superior da baliza, e não uma simples Jabulani, que num segundo trazia com ela toda a esperança de uma nação, para no momento seguinte se traduzir na descrença e no desespero total.

Suárez sabia o que ia acontecer. Só pode. Até hoje estou convencido disso. O uruguaio esquece todas as convenções e corre para o meio do relvado em êxtase total, abraçando tudo e todos, tornando-se no herói improvável de uma noite mítica. No desempate por grandes penalidades que se seguiu, o Uruguai acabou por vencer, apesar de o mesmo Gyan, numa demonstração impressionate de carácter, ter marcado (e que bem marcado!) o primeiro pontapé do desempate. E quem foi a figura de jogo? Suárez, pois claro. A nova Mão de Deus.

The Beautiful Game

Já dizia Bill Shankly, num dos maiores clichés usados no mundo da bola, que "O futebol não é uma questão vida ou de morte. É mais que isso". Não obstante o referido lugar comum, a verdade é que o futebol, para quem o ama e para quem verdadeiramente o sente, é um estado de alma, um modo de vida. Não só devido àquela equipa que significa tudo para nós, pela qual torcemos desde que nos lembramos da nossa própria existência, mas também pela beleza intrínseca e intemporal de um slalom de Eusébio, da mão de Deus de Maradona, do futebol total da Holanda de Cruyjff, de um remate certeiro de Gerd Müller, de um golo impossível de Van Basten, ou de mais uma defesa fantástica de Walter Zenga.

Futebol é isto. É arte, é paixão, é vida. E é através deste projecto conjunto, despretensioso mas sério, que procuraremos demonstrar a nossa paixão pelo jogo mais bonito do mundo. The Beautiful Game!