sábado, 21 de julho de 2012

Shortlist: André Martins

Para além do circo dos dirigentes e da permanente polémica em relação às arbitragens, a actualidade do futebol português é marcada por uma ausência preocupante de qualidade nas camadas jovens. Num país onde a matéria prima é limitada em termos quantitativos, urge encontrar jovens valores que dêem continuidade ao assinalável trabalho - e aos resultados - que tem vindo a ser protagonizado pela Selecção Nacional.

E eis que, no meio do deserto de jovens talentos, surge o sportinguista André Martins. Com 22 anos, deveria já ter explodido e ser uma referência no clube onde actua, bem como já ter uma ou outra internacionalização pela Selecção "A". Porém, a falta de apostas nos jovens portugueses por parte dos três grandes poderá ser em parte uma explicação plausível para justificar este panorama.


Passando ao que realmente interessa: André Martins. A sua pouca robustez física (1,69m e 61kgs) é inversamente proporcional à sua capacidade técnica e visão de jogo. De cabeça sempre levantada em busca da melhor linha de passe e das constantes movimentações dos seus colegas de equipa, André Martins revela uma maturidade bastante desenvolvida para a sua idade. Precisa urgentemente de ser uma presença constante no onze leonino de forma a ganhar confiança e ritmo continuado de jogo, para que se sinta importante e útil na equipa. Aliás, basta ver um jogo dos Sub-21 nacionais e observar a classe com que André Martins desempenha o papel de maestro, sendo o verdadeiro motor de jogo da equipa, o dínamo que faz a frente de ataque funcionar.

A confirmar-se o seu talento e a constituir uma aposta contínua, poderá estar aqui um caso sério do futebol nacional, a ser tomado em conta para se tornar numa opção mais que válida para o Mundial 2014, que se realizará no Brasil.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Uma Segunda Vida

Esta última semana ficou marcada pelas transferências de dois jogadores com reconhecido cartel no futebol europeu: Clarence Seedorf e Diego Forlán, que defenderão as cores do Botafogo e do Internacional de Porto Alegre, respectivamente. Mas o que realmente significam estas transferências? Uma reforma dourada e livre de pressões de toda a ordem e feitio? Ou um real desafio ajustado às actuais capacidades dos atletas supra mencionados?


Durante muitos anos, fomos habituados a assistir às "fugas" de alguns jogadores veteranos para o El Dorado de outros campeonatos menos competitivos, nomeadamente de países do Médio Oriente onde os petrodólares permitem o luxo de pagar salários principescos a jogadores em fim de carreira, só e apenas para abrilhantar ou conferir algum mediatismo àqueles torneios.

Todavia, ultimamente temos assistido à fuga de alguns jogadores de nomeada para o campeonato brasileiro, reconhecidamente um dos mais competitivos do mundo, não obstante as patentes diferenças - maioritariamente a nível táctico e de velocidade de jogo - em relação ao futebol praticado no Velho Continente. Foi o caso de Deco, Ronaldinho Gaúcho, Marcos Assunção, Sebastian "El Loco" Abreu, Elano, e mais recentemente Seedorf e Forlán. O que se poderá esperar quanto ao lucro desportivo que estes dois craques poderão trazer ao Brasileirão?


A meu ver, esta oportunidade surge como uma hipótese para ambos de "reencarnar" e assumir uma segunda vida, futebolisticamente falando: se para Seedorf, do alto dos seus 36 anos, o desafio do "Fogão" servirá para os adeptos degustarem durante mais uns anos a maravilhosa classe do holandês (afinal de contas, quem sabe não esquece), no caso de Forlán, a passagem pelo Internacional terá como objectivo fazer esquecer duas épocas estéreis do avançado uruguaio - em especial a última, nos nerazzurri de Milão - após um brilhante Mundial 2010. 

No fundo, ambos terão como missão tornar ainda mais competitivo o cada vez mais interessante Brasileirão. Uma segunda vida, que deverá ser aproveitada com unhas e dentes.  

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Espanha – o “catenaccio” da posse de bola?


Acabou-se o Euro 2012. À partida para esta competição, a maioria dos adeptos do futebol e as bolsas de apostas apontavam Espanha, Alemanha e Holanda como os grandes favoritos a levantar o troféu, com Espanha à cabeça por ser o campeão europeu e mundial em título. Não causa, portanto, estranheza a vitória de nuestros hermanos que, de facto, estão a tirar o máximo partido da sua geração de ouro contando com jogadores fortíssimos a manter e a gerir a posse de bola bem como a aproveitar cada nesga de terreno livre para aplicar passes entrelinhas, verdadeiras sentenças de morte para as defensivas contrárias.



Como adversário na final, a Espanha teve a (quase) sempre competitiva Itália,  um país que foi berço de umas das filosofias de jogo mais conhecidas do mundo do futebol – admirada por uns, abominada por outros. Falamos do catenaccio! Uma filosofia de jogo assente num bloco baixo, elevada concentração de jogadores na zona defensiva quando o adversário tem a posse de bola, e ainda uma forte aposta nas transições ofensivas com vista a aproveitar cada oportunidade para marcar o golo que possibilite manter a toada de jogo baseada na organização defensiva. Obviamente, como quase tudo que rodeia o futebol, esta filosofia de jogo dividiu opiniões. Os admiradores da componente táctica viam no catenaccio o exemplo máximo da ciência aplicada ao futebol. Já os apologistas da vertente técnica sempre encontraram no catenaccio uma barreira inaceitável ao bom futebol, um verdadeiro sacrilégio na medida em que a preocupação maior estava em impedir o futebol do adversário ao invés de estar centrada na procura pelo golo que, no fundo, é a essência do beautiful game.

Mas será que o catenaccio tem que obrigatoriamente assentar numa filosofia de jogo defensiva? A resposta é não. Na verdade, pode-se impedir (ainda com maior eficácia) que o adversário crie perigo adoptando uma filosofia de jogo tendencialmente atacante. Como? Tendo bola, escondendo-a do adversário. Como é óbvio, enquanto o adversário não tem posse de bola, as probabilidades de sofrer golos são ínfimas. Os expoentes máximos deste novo “catenaccio da posse de bola” são, sem sombra de dúvida, o FC Barcelona e a selecção espanhola. E porquê estes? Porque têm jogadores para isso, nomeadamente dois jogadores de meio-campo exímios a conservar a posse de bola e a pautar o jogo: são eles Xavi e Iniesta.

  
Por isso, o “catenaccio da posse de bola” não é para quem quer... é para quem pode!

domingo, 1 de julho de 2012

Olho para o negócio: boas soluções em tempos de crise

Com o aproximar da pré-época, é natural que comece a tão aguardada dança das transferências, compreensivelmente apelidada de silly season, fruto dos infindáveis rumores (sustentados ou não) que a caracterizam. Porém, e especialmente em época pós-Euro, existem muitos jogadores super inflacionados precisamente em virtude do referido certame: é o caso, por exemplo, de João Moutinho, Bruno Alves ou Miguel Veloso, do lado português; Bendtner, Modric, Strinic, Dzagoev, Gebre Selassie, Jiracek, Pilar, Yarmolenko ou Konoplyanka, só para citar outros casos de jogadores "da moda" cujo valor aumentou exponencialmente com a sua participação no Euro, e que, portanto, os clubes neles interessados terão de abrir os cordões à bolsa caso queiram contar com os seus préstimos.

Todavia, existem, a meu ver, três categorias de jogadores que seriam óptimas oportunidades de negócio nesta época estival: a) Jogadores que não participaram no Euro 2012; b) Jogadores que, tendo feito parte dos plantéis que participaram no Euro, não jogaram ou tiveram uma participação reduzida; c) Obviamente, os jogadores livres, que não representam qualquer custo (tirando os salários e possíveis comissões) para os clubes interessados.

a) Começando pelos jogadores que não participaram no Euro, temos um vasto leque de atletas que poderiam ser óptimos investimentos, tendo em conta o binómio qualidade/preço. Citando alguns exemplos:

- Dries Mertens. Este extremo belga do PSV é um excelente jogador para qualquer equipa de média/grande dimensão. Extremamente veloz e incisivo, alia a imprevisibilidade técnica a um poder de finalização muito interessante para um jogador que não é um avançado puro.

- Georginio Wijnaldum. Também do PSV, o jovem "10" holandês seria uma excelente aquisição para qualquer clube da alta roda europeia. Vítima do excesso de qualidade no seu raio de acção, não foi convocado para o Euro. Todavia, é questão de tempo até se tornar num indiscutível da selecção das túlipas.

- John Guidetti. Este jovem sueco, emprestado pelo Manchester City ao Feyenoord na época finda, falhou o Euro por lesão. Porém, 20 golos em 23 aparições não é coisa que passe despercebida. Sem grande espaço no clube inglês, decerto vingaria no futebol português.

John Guidetti

- Manuel Fernandes. A grave crise financeira do seu clube, o Besiktas, pode ser meio caminho andado para adquirir este médio centro completo a um preço bastante acessível. Causou alguma estranheza não fazer parte dos 23 eleitos da Selecção Nacional, mas o clube que o levar nesta nova época agradece.

- Milos Krasic. Extremo sérvio que joga (pouco) na Juventus. Um caso estranho de sub-rendimento e pouca sorte no futebol italiano, após várias épocas brilhantes ao serviço do CSKA de Moscovo. Já exigiu sair do clube transalpino, pelo que não será de ignorar sondar os seus serviços. Traria qualidade ao futebol português.

Também poderia referir outros atletas, como Burak Yilmaz (34 golos ao serviço do Trabzonspor) ou Bas Dost (31 golos pelo Heerenveen), mas já houve quem se adiantasse a garantir a sua colaboração. Lazio e Wolfsburg, respectivamente. Simão Sabrosa também poderia ser um reforço interessante.

b) Não obstante terem marcado presença no Euro, não fizeram/não tiveram oportunidade de mostrar o seu valor e, consequentemente, "inchar" o valor do seu passe, constituindo por isso alvos interessantes:

- Ricardo Quaresma. Tal como acontece com Manuel Fernandes, a situação financeira do clube turco pode potenciar a sua saída a um preço acessível. Uma excelente opção para qualquer clube português (e não só).

- Hugo Viana. Seria sem dúvida um jogador que faria a diferença num campeonato periférico (Grécia, Turquia, Rússia...), bem como num grande do futebol português.

- Kevin Strootman. Não jogou um único minuto na selecção holandesa, mas este médio centro do PSV será decerto um caso sério nos próximos anos. É agarrá-lo enquanto é tempo, para quem quiser um Van Bommel mais evoluído tecnicamente (também joga um pouco mais adiantado).

Kevin Strootman

- Anders Lindegaard. Quem quer um óptimo guarda redes que não é titular nem no seu clube (Manchester United) nem na sua selecção (Dinamarca)? Com 28 anos, está prestes a atingir o pico de maturidade como futebolista. Dado o papel secundário que tem tido nos últimos anos, seria uma excelente aposta para assumir a titularidade de um clube que jogue na Liga dos Campeões.

- Steve Mandanda. Nunca tendo saído da Ligue 1, o guarda redes do Marselha e suplente dos Bleues está na hora de dar "o salto", sob pena de cair em processo de estagnação. A Premier League seria uma boa aposta.

c) No final de cada época existe invariavelmente uma miríade de jogadores que não renovaram o vínculo contratual com os clubes empregadores. Este ano temos alguns "casos" interessantes como José Bosingwa, Alessandro Del Piero, Salomon Kalou, Tomas Sivok, Lukasz Fabianski, Markus Rosenberg, entre outros. Quem pagar mais leva!

Salomon Kalou