segunda-feira, 9 de abril de 2012

A Mão de Deus. Não a de Maradona. A de Luis Suárez.


O Campeonato do Mundo é por excelência uma competição propícia a momentos míticos e inolvidáveis, dignas de constar em qualquer manual de futebol. Quem não se lembra do "barrilete cosmico" de Maradona contra os ingleses no México '86? Ou, no mesmo jogo, a famosíssima Mão de Deus? Porém, outra Mão de Deus teve lugar no último torneio em 2010, tendo como protagonista o uruguaio do Liverpool, Luis Suárez.

Quartos de final do Mundial da África do Sul, encontram-se frente a frente duas das equipas sensação do certame. De um lado, o Gana, personificação do futebol perfumado e tecnicista tão característico daquela zona de África, onde despontavam figuras como Asamoah Gyan, Kevin Prince Boateng ou Sulley Muntari. Do outro, a equipa da moda, o Uruguai, envergando a camisola albiceleste jogadores Luis Suárez, Diego Forlán ou Edinson Cavani.

Após os primeiros noventa minutos de um jogo intenso e bem disputado, o marcador assinala um empate a um golo: aos 45' Muntari adianta a equipa africana no marcador, dando ao Gana a esperança legítima de tornar-se na primeira equipa daquele continente a alcançar as meias finais de um Mundial. Porém, aos 55', o inevitável Forlán iguala a contenda, atirando o jogo para prolongamento. Nesta fase do jogo, não obstante estarmos a assistir a um embate repartido e muito equilibrado, o nulo persiste de forma indelével, até que, aos 120 minutos, precisamente no último momento do jogo, eis que o drama acontece: numa jogada de insistência do ataque ganês, após um livre lateral, Dominic Adiyiah cabeceia para o golo...que não é golo porque Luis Suárez faz o papel de Muslera e defende - literalmente - a bola em cima da linha de golo. Que melhor drama épico para uns quartos de final de um Mundial de Futebol? Suárez expulso e penalty no último minuto do prolongamento. O uruguaio sai do relvado lavado em lágrimas, plenamente convencido da iminente eliminação do seu país. Não obstante, quiçá iluminado por uma vã esperança, não vai directamente para os balneários, preferindo ficar a assistir ao desfecho do jogo, junto ao túnel...


Os ganeses rejubilam, personificados na sua grande figura, Asamoah Gyan, que se prepara para bater a grande penalidade e assim escrever uma linda página na História desportiva do Gana. Mas a vida - e o futebol - tem um sentido de humor muito próprio: na sequência da marcação do penalty, a bola esbarra na trave, volatilizando o sonho de todo um povo. Ao olhar para o rosto de Gyan e dos seus companheiros, poderíamos jurar que tinham sido eles próprios a embater contra o ferro superior da baliza, e não uma simples Jabulani, que num segundo trazia com ela toda a esperança de uma nação, para no momento seguinte se traduzir na descrença e no desespero total.

Suárez sabia o que ia acontecer. Só pode. Até hoje estou convencido disso. O uruguaio esquece todas as convenções e corre para o meio do relvado em êxtase total, abraçando tudo e todos, tornando-se no herói improvável de uma noite mítica. No desempate por grandes penalidades que se seguiu, o Uruguai acabou por vencer, apesar de o mesmo Gyan, numa demonstração impressionate de carácter, ter marcado (e que bem marcado!) o primeiro pontapé do desempate. E quem foi a figura de jogo? Suárez, pois claro. A nova Mão de Deus.

5 comentários:

Luís disse...

Foi épico mesmo! Acho que é daquelas escolhas que fazes desde os torneios interturmas da escola: se a bola vem à baliza, o guarda redes está batido, agarras? Claro que sim! Como jogador a tua obrigação é marcar golos e defender a baliza, legal ou ilegalmente (por isso existe o penalti e os cartões). Faria o mesmo e ainda me ria.

Miguel Tavares de Pinho disse...

Falando por mim, acho que faria o mesmo, ainda por cima no contexto em apreço. Porém, no caso do Suárez, não tenho a certeza se foi um acto tão premeditado como à partida quiçá possa parecer. Teve sorte, saiu-lhe bem...

Luís disse...

E o Gyan nunca mais foi o mesmo... A sorte é tudo, mas tens sempre de acreditar que corre bem. O Matias quando marcou ao City disse: "eu penso sempre que vai entrar".

JP disse...

O Suárez teve muita sorte, mesmo. Mas fez o que devia fazer. Trocar um golo certo por um penalty (que pode acertar ou não) é a escolha óbvia. Podia ter corrido mal, mas não correu.

E é assim que se escreve uma página na história do futebol.

Miguel Tavares de Pinho disse...

Luís, o Gyan agora está "desterrado" no Al Ain...as coisas não lhe correram muito bem no Sunderland. E na CAN deste ano voltou a falhar um penalty decisivo. Ironias.

JP, lá está, é uma questão de sorte. Mas sempre ouvi dizer que a sorte protege os audazes.