Espanha – o “catenaccio” da posse de bola?
Acabou-se
o Euro 2012. À partida para esta competição, a maioria dos adeptos do futebol e as bolsas de apostas apontavam Espanha, Alemanha e Holanda como os grandes
favoritos a levantar o troféu, com Espanha à cabeça por ser o campeão europeu e
mundial em título. Não causa, portanto, estranheza a vitória de nuestros hermanos que, de facto, estão a
tirar o máximo partido da sua geração de ouro contando com jogadores fortíssimos a
manter e a gerir a posse de bola bem como a aproveitar cada nesga de terreno
livre para aplicar passes entrelinhas, verdadeiras sentenças de morte para as
defensivas contrárias.
Como
adversário na final, a Espanha teve a (quase) sempre competitiva Itália, um país que foi berço de umas das filosofias
de jogo mais conhecidas do mundo do futebol – admirada por uns, abominada por
outros. Falamos do catenaccio! Uma filosofia de jogo assente num bloco baixo,
elevada concentração de jogadores na zona defensiva quando o adversário tem a
posse de bola, e ainda uma forte aposta nas transições ofensivas com vista a
aproveitar cada oportunidade para marcar o golo que possibilite manter a toada
de jogo baseada na organização defensiva. Obviamente, como quase tudo que
rodeia o futebol, esta filosofia de jogo dividiu opiniões. Os admiradores da
componente táctica viam no catenaccio o exemplo máximo da ciência aplicada ao
futebol. Já os apologistas da vertente técnica sempre encontraram no
catenaccio uma barreira inaceitável ao bom futebol, um verdadeiro sacrilégio na
medida em que a preocupação maior estava em impedir o futebol do adversário ao
invés de estar centrada na procura pelo golo que, no fundo, é a essência do beautiful game.
Mas
será que o catenaccio tem que obrigatoriamente assentar numa filosofia de jogo
defensiva? A resposta é não. Na verdade, pode-se impedir (ainda com maior
eficácia) que o adversário crie perigo adoptando uma filosofia de jogo
tendencialmente atacante. Como? Tendo bola, escondendo-a do adversário. Como é
óbvio, enquanto o adversário não tem posse de bola, as probabilidades de sofrer
golos são ínfimas. Os expoentes máximos deste novo “catenaccio da posse de bola”
são, sem sombra de dúvida, o FC Barcelona e a selecção espanhola. E porquê
estes? Porque têm jogadores para isso, nomeadamente dois jogadores de
meio-campo exímios a conservar a posse de bola e a pautar o jogo: são eles Xavi
e Iniesta.
Por
isso, o “catenaccio da posse de bola” não é para quem quer... é para quem pode!
6 comentários:
Bom ponto de vista deste "novo" catenaccio da posse de bola...mas, mesmo assim, nem sempre a posse de bola garante bons resultados. Infelizmente, já vi muitos jogos do Benfica com uma posse de bola dominadora e a perder :/
Interessantíssimo ponto de vista, nunca tinha pensado nisto deste prisma. De facto, é verdade: este "catenaccio" acaba por ser tão ou mais eficaz que o homónimo italiano. Mas quanto mais tempo irá durar?
Anónimo,
Se facto, ter muita posse de bola não é sinónimo do tal catenaccio a que me refiro. Há jogos em que, esporadicamente, acontece acabar-se o jogo com 70% ou mais de posse de bola!
No entanto, este catenaccio a que me refiro neste artigo é uma filosofia de jogo que assenta toda ela na posse de bola, quer enquanto forma de procura do golo, quer, quanto a mim, sobretudo como meio de anular o adversário, impedindo-o de atacar e causar perigo porque não tem bola!
Bom texto Falcão! Ouvi há pouco tempo uma expressão muito feliz de um jornalista relativamente à forma de jogar espanhola, chamou-a de "Tiki-takanaccio", uma mistura do famoso tiki-taka com o não menos famoso catenaccio italiano! Sinceramente, acho que a Espanha teve sorte na conquista do Euro 2012, muita sorte mesmo! Não fosse o escândalo contra a Croácia (dois penáltis descarados) e talvez hoje estaríamos a falar de outro campeão da Europa! O futebol do Barça e da seleção espanhola é, quanto a mim, enfadonho, baseado numa troca de passes até à nausea e aproveitando a genialidade de dois jogadores que os espanhóis tiveram a felicidade de terem na mesa geração: Andrés Iniesta e Xavi Hernandez! Mas considerando que o Xavi, o verdadeiro motor da Roja, já caminha para os 33 anos, creio que o fim de linha desta forma de jogar está muito próximo!
Grande texto, Falcão!
Eu acredito que no futebol não existe um sistema de jogo perfeito, nem uma táctica infalível. O catenaccio italiano pode perder eficácia subitamente com uma pressão alta eficaz, e o mesmo se diga quanto ao tiki-taka - que a nossa Selecção anulou na perfeição nas meias finais do Euro 2012, pecando apenas (como sempre!) na eficácia ofensiva.
Na verdade, nunca tinha pensado no tiki-taka como um "catenaccio à espanhola", mas por mais eficaz que seja, penso que será sempre sol de pouca dura, uma vez que está demasiado dependente da capacidade técnica do meio-campo. Sem Xavi, o Barcelona treme. E a Selecção espanhola também. E o homem não vai jogar para sempre...
JNS e JP,
Obrigado pelos vossos comentários.
Concordo quando dizem que esta filosofia de jogo tem os dias contados. Aliás, tanto é assim que terminei o texto a dizer que o "catenaccio da posse de bola" não é para quem quer mas para quem pode e, de facto, não é fácil reunir no mesmo 11 dois jogadores com a inteligência táctica, leitura de jogo e capacidade de esconder a bola como a Espanha e o FC Barcelona tem com o Xavi e Iniesta. É que esta mesma filosofia, com outros intérpretes, pode correr muito mal.
Cumprimentos
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